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A INSENSATEZ DA OBEDIÊNCIA PARCIAL
Por John MacArthur
Se o pecado é um inimigo derrotado, como pode nos
causar tantos problemas? Se o domínio do pecado foi quebrado, por que, com frequência,
parece nos dominar? Por que as forças do humanismo secular, o novo hedonismo, a
Nova Era, o ensino da autoestima e a má teologia têm causado tanto impactos
entre os crentes? Por que a consciência parece estar desaparecendo até mesmo no
meio evangélico?
Todo cristão honesto confirmará que a tendência
para o pecado não é apagada quando nos tornamos cristãos. Ainda temos prazer no
pecado. Ainda lutamos contra hábitos pecaminosos. Alguns desses hábitos estão
tão profundamente arraigados que ainda batalhamos contra eles após anos de luta
espiritual. Ainda caímos em pecados horríveis e vergonhosos. A verdade é que
pecamos diariamente. Nossos pensamentos não são aqueles que deveriam ser.
Desperdiçamos nosso tempo em buscas frívolas e mundanas. De tempos em tempos
nosso coração fica frio quanto às coisas de Deus. Por que tudo isso acontece se
o domínio do pecado está quebrado?
Aqui veremos que a Escritura nos insta a evitar
qualquer tipo de apatia em relação ao tratamento do pecado. Devemos mortificar
o pecado e sua influência em toda a nossa vida.
A ira de Deus contra Amaleque
Uma ilustração no Antigo Testamento pode ajudar a
esclarecer nossa relação com o pecado. Em 1 Samuel 15, lemos que Samuel ungiu a
Saul e solenemente deu-lhe estas instruções do Senhor: “Vai, pois, agora, e
fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo que tiver, e nada lhe poupes;
porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas,
camelos e jumentos” (v. 3).
O mandamento de Deus era claro. Saul tinha que proceder
cruelmente em relação aos amalequitas, matando até mesmo as criancinhas de
peito e animais. Toda a tribo tinha que ser total e impiedosamente arrasada —
nenhum refém poderia ser tomado.
O que faria um Deus de amor infinito impor um
julgamento tão severo? Os amalequitas eram uma antiga raça nómade, descendentes
de Esaú (Gn 36.12). Habitavam aparte sul de Canaã e eram eternos inimigos dos
Israelitas. Pertenciam à mesma tribo que cruelmente atacou Israel em Refidim,
logo após o Êxodo, na famosa batalha em que Arão e Hur tiveram que sustentar os
braços de Moisés (Êx 17.8-13). Eles emboscaram Israel pela retaguarda e
massacraram os soldados dominados, que estavam extenuados (Dt 25.18). A mais
poderosa e selvagem tribo de toda a região atacou Israel covardemente. Naquele
dia Deus livrou Israel sobrenaturalmente, e os amalequitas fugiram procurando
refúgio. No final dessa batalha Deus jurou a Moisés: “Escreve isso para memória
num livro e repete-o a Josué; porque eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque
de debaixo do céu” (v. 14). Realmente ele considerava importante que Israel
destruísse Amaleque:
Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando
saías do Egito, como te veio ao encontro no caminho e te atacou na retaguarda
todos os desfalecidos que iam após ti, quando estavas abatido e fatigado; e não
temeu a Deus. Quando pois, o Senhor, teu Deus, te houver dado sossego de todos
os teus inimigos em redor, na terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança,
para a possuíres, apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te
esqueças (Dt 25.17-19; ênfase acrescentada).
Os amalequitas eram guerreiros temíveis. Sua
presença intimidadora foi uma das razões pelas quais os israelitas
desobedeceram a Deus e um empecilho para que entrassem na terra prometida em
Cades Barnéia (Nm 13.29). A ira de Deus ardia contra os amalequitas por causa
da perversidade deles. Ele constrangeu até o corrupto profeta Balaão a
profetizar sua sentença: “Amaleque é o primeiro das nações; porém o seu fim
será a destruição” (Nm 24.20). Os amalequitas costumavam atormentar Israel indo
às suas terras depois de a plantação ter sido semeada, e movimentando-se na
terra cultivada com suas barracas e animais, destruíam tudo pelo seu caminho
(Jz 6.3-5). Eles odiavam a Deus, detestavam Israel e pareciam ter prazer em
atos perversos e destrutivos.
As instruções de Deus para Saul, portanto,
cumpriram o voto que ele havia jurado a Moisés. Saul tinha que eliminar a tribo
para sempre. Ele e seus exércitos eram os instrumentos pelos quais a justiça de
Deus seria levada a cabo. Seu santo julgamento para um povo mau.
Mas a obediência de Saul foi somente parcial. Ele
ganhou a batalha ferindo de forma esmagadora os amalequitas que fugiram deles
“desde Havilá, até chegar a Sur, que está defronte do Egito” (ISm 15.7). Como
ordenado, ele matou todas as pessoas, mas “tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas”
(v. 8). “E Saul e o povo pouparam Agague, e o melhor das ovelhas e dos bois, e
os animais gordos, e os cordeiros, e o melhor que havia e não os quiseram
destruir totalmente; porém toda coisa vil e desprezível destruíram” (v. 9). Em
outras palavras, motivados pela cobiça eles pegaram as melhores coisas dos
amalequitas, coletando os despojos da vitória, e desobedecendo propositadamente
às instruções do Senhor.
Por que Saul poupou Agague? Talvez porque ele
quisesse usar o rei humilhado dos amalequitas como um troféu para mostrar seu
próprio poder. Aparentemente, naquele momento Saul estava somente motivado pelo
orgulho; ele até construiu um monumento para si no monte Carmelo (v. 12).
Quaisquer que fossem seus motivos, ele desobedeceu a um claro mandamento de
Deus e permitiu que Agague vivesse.
Esse pecado era tão sério que Deus imediatamente
depôs do trono Saul e seus descendentes para sempre. Samuel lhe disse: “Visto
que rejeitastes a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não
sejas rei” (v. 23).
Então Samuel disse: “Traze-me aqui a Agague, rei
dos amalequitas” (v. 32).
Evidentemente Agague, pensando que sua vida havia
sido poupada e se sentindo muito seguro, “veio a ele confiante”. “Certamente já
se foi a amargura da morte”, disse ele.
Mas Samuel não estava para brincadeira. Disse a
Agague: “Assim como a tua espada desfilhou mulheres, assim desfilhada ficará a
tua mãe entre as mulheres. E Samuel despedaçou Agague perante o Senhor em
Gilgal” (v. 33).
Nossa mente, instintivamente, recua diante do que
parece ser um ato impiedoso. Mas foi Deus quem mandou que isso fosse feito. Era
um ato de julgamento divino para mostrar a ira santa de um Deus indignado
contra o pecado devasso. Ao contrário de seu compatriota e rei, Samuel estava determinado
a cumprir inteiramente a ordem do Senhor. A batalha que tinha por objetivo
exterminar os amalequitas para sempre terminou sem que esse objetivo fosse
alcançado. A Bíblia registra que depois de alguns anos, a tribo revigorada
atacou repentinamente o território sul e levou cativas as mulheres e crianças —
incluindo a família de Davi (1 Sm 30.1 -5).
Quando Davi encontrou os amalequitas saqueadores,
“Eis que estavam espalhados sobre toda região, comendo, bebendo e fazendo festa
por todo aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da terra de
Judá” (v. 16). Ele os feriu desde o crepúsculo vespertino até a tarde do dia
seguinte, matando a todos, exceto quatrocentos moços que fugiram montados em
camelos (v. 17).
Os amalequitas são uma ilustração adequada do
pecado que permanece na vida do crente. Aquele pecado — já totalmente derrotado
— deve ser tratado com crueldade e despedaçado, ou então ele irá reviver e
continuar a saquear e espoliar nosso coração, e tirar o vigor da nossa força espiritual.
Não podemos ser misericordiosos com Agague, ou então ele retornará para tentar
nos devorar. De fato, o pecado que permanece em nós frequentemente se torna
mais ferozmente resoluto depois de ter sido destronado pelo Evangelho.
A Bíblia nos ordena mortificar o pecado. “Fazei,
pois, morrer a vossa natureza terrena; prostituição, impureza, paixão lasciva,
desejo maligno e a avareza, que é a idolatria; por estas coisas é que vem a ira
de Deus [sobre os filhos da desobediência]” (Cl 3.5,6). Não podemos obedecer
parcialmente ou ser indiferentes quando procuramos eliminar o pecado da nossa
vida.
Não é possível parar enquanto a tarefa estiver
incompleta. Os pecados, do mesmo modo que os amalequitas, encontram sempre um
jeito de escapar da matança, gerando, revivendo, reagrupando-se e lançando
novos e inesperados ataques em nossas áreas mais vulneráveis.
Fonte: Púlpito Cristão
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