Loucuras do Patriarca
O PATRIARCA APOSTÓLICO E A GAIOLA DAS VAIDADES
Por Daniel
Clos Cesar
Recentemente o sr. Renê, líder de uma igreja no
estado do Amazonas (que obviamente não tem culpa), recebeu uma tal de “unção
patriarcal”. Pouco antes disso, o agora apóstolo e patriarca, ordenou mais de
duzentos homens e mulheres ao posto de apóstolo, dando uma clara indicação de
que “apóstolo”, não é mais o topo da carreira eclesiástica na igreja
brasileira.
Apesar de “criado” na igreja, conheci o Evangelho
apenas em meados da década de 1990. Nesse período, todo tipo de ensandice
surgia no seio da igreja evangélica brasileira. Os antigos cantores evangélicos
atendiam agora por levitas, passado um tempo, os líderes desses levitas
deixariam de ser apenas levitas para se tornarem ministros. Não muito tempo
depois, alguns ministros tornaram-se no próprio ministério, e o que antes era
uma prerrogativa da igreja como instituição, passou a ser do indivíduo.
Se em uma esfera hierárquica inferior aconteceu
tantas mudanças em função tão somente de vaidade (e muito pouca
espiritualidade), na esfera superior a loucura foi e é ainda maior. Pastor,
bispo, presbítero e reverendo eram os títulos (ou cargos) atribuídos a tanto
tempo quanto o próprio protestantismo (ou mesmo o cristianismo, excetuando-se a
igreja romana com seus cardeais, pardais e andorinhas), uma que outra igreja
criava alguma distinção no seu quadro, mas muito mais de cunho administrativo
que “espiritual”. No entanto, embalados pelo mover “espirituoso” pós-moderno
das últimas duas décadas, novos “cargos espirituais” foram revelados à igreja e
iniciou-se uma frenética guerra de vaidades entre diferentes denominações,
ministérios e visões.
Em uma entrevista anos atrás, outro líder religioso
de nome Miguel, a quem se atribuiu o título de apóstolo-primaz, e que alega ser
o primeiro no Brasil com tal “unção”, revelou que assim que se “consagrou”
apóstolo tornou-se motivo de piada entre os outros líderes evangélicos, até
então simples pastores, e que muitos desses que o ridicularizaram no passado
agora respondiam por este mesmo “ministério”.
Acredito que o mesmo acontece agora com este senhor
natural de Serrinha. Neste momento, provavelmente algum Paulo ou Silas está
rindo do “amigo”: – Como ele se atreve? Patriarca? Não obstante, patriarca
parece despontar em um futuro bem próximo como o novo rosa da moda gospel.
Pois, se apóstolo já tinha virado lugar comum, que dirá agora que apenas uma
igreja ordenou mais de duzentos? E se ele é patriarca de uma visão… quantas
visões não pedirão seu próprio papa?
Mas infelizmente, são estes líderes os doutores do
cristianismo contemporâneo.
Algum tempo atrás, enquanto assistia a um
documentário da Missões Portas Abertas junto com alguns irmãos, descobri que
nenhum deles fazia a menor ideia de quem era o irmão André ou o Portas Abertas.
Nunca haviam lido nada a respeito dele ou de seu trabalho missionário atrás da
Cortina de Ferro nos anos da Guerra Fria. É certo também, que poucos ou ninguém
dentro desses movimentos “neopentecolescos” sabe quem foi James Hudson Taylor,
Charles Thomas Studd ou mesmo o português João Ferreira de Almeida, que não
apenas traduziu a versão da Bíblia mais lida no Brasil, mas também foi
perseguido e condenado à morte pela inquisição por se opor energicamente ao
catolicismo romano nas colônias ibéricas da Ásia.
A igreja brasileira e não a Igreja de Cristo (pela
qual Cristo morreu) está podre por dentro e cheirosa por fora. Seus templos são
sofisticados, seus apresentadores usam terno italiano (com exceção de alguns
que gostam de usar coisas douradas ou prateadas que mais parecem fantasia do
Cirque du Soleil) e andam em carros importados. Suas doutrinas no entanto são
vazias, antropocêntricas e perecíveis, mas que atendem os desejos da massa
mundana que enchem estes espaços de endeusamento de homens.
É lamentável… mas inevitável.
“Pois haverá
tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de
mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.”
(2 Tm 4.3-4)
***
Daniel Clós Cesar é do tempo em que ministério era
coisa séria e honrada e que a igreja ainda era pastoreada por pastores.
Fonte: Púlpito
Cristão
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