Sonho de consumo
Não se trata
de pontos de contato da fé! Foi uma das grandes declarações do Cristo!
Por: Danilo
Fernandes
Foram exatos catorze minutos, segundo a minha
assistente. Eu apaguei deitado no divã defronte a minha mesa de trabalho. Foi
sono tão tranquilo, em tão estampado sorriso, que ela mesma fez silêncio
cooperando com a minha gazeta no meio do dia agitado. Desligou os quatros
monitores, baixou as persianas e foi lanchar.
Eu não queria ir, mas insistiram. Logo na entrada
uma rosa ungida. Eu rejeito e ainda faço a minha cara padrão de quando alguém
me oferece sushi ou sashimi, refeições que detesto: Um olhar de nojo
cinematográfico.
Cozinha japonesa e idolatria gospel são coisas que
não entram na minha cabeça. Não são mesmo para se levar a sério. Alguém pode me
dizer se dá para confiar numa cozinha onde servem a comida crua, mas cozinham o
guardanapo? E idolatria em igreja evangélica? Se a fé do cidadão é daquelas que
precisa de muleta, imagens, pontos de contato e que tais, porque procura uma
igreja protestante? Vá procurar a sua turma na macumba ou na ICAR, meu
camarada! Passa fora, pois aqui só contaminas o rebanho com heresias!
Como se vê, até em sonho a minha apologética é um
tanto caceteira, risos.
Voltando ao sonho...
Lá estava eu naquele templo quase pagão. O pastor
era conhecido. Igreja neopentecostal light para a classe média. Em uma festinha
de amigos já tínhamos quebrado o pau por conta de rosinhas, ungüentos e outras
pajelanças. Segundo ele: pontos de contato da fé, doutrina sustentada até nos
atos do próprio Senhor Jesus.
Com todo o respeito, entre um gole de Coca-Cola
zero e uma empadinha, já havia dito ao honorável pastor: Acorda Marcelo! Pensa:
Moises está no monte falando com Deus e você é o camarada no sopé da montanha
incentivando o povo a fazer ídolos. Fica depois esta gente toda que segue gente
como você achando que está na igreja de Cristo... Caminham com ela a vida toda,
mas jamais verão Israel! Ele ria. Eu bufava. Ele desafiou: Vá a um culto meu na
próxima semana.
Então eu fui. Insistência de familiar. Pedido de
amigo. Mas fui mordido. Não ia prestar.
Acompanho a “pregação” deprimido. A passagem era
João 9, aquela onde o Senhor cura um cego de nascença. A exejegue do “´Pr.
Marcelo” usava o proceder incomum do Senhor no uso elementos – um lodo feito de
Seu cuspe e terra para curar o homem cego de nascença, como sustentáculo da
doutrina dos tais pontos de contato da fé e até dos atos proféticos, no comando
de ação dado ao cego para que lavasse os seus olhos no tanque de Siloé, ato
profético para efetivar a cura... Imagine!
Uma interpretação que sempre me entristeceu muito.
Sempre a vi como um “deboche embasado” posto a justificar o uso de elementos
orgânicos, minerais ungidos com a finalidade de cura e até mesmo aberrações e
franca pajelança, como as toalhas suadas de Valdemiro Santiago, os bolos e
rosas ungidos do RR Soares, os unguentos de Edir Macedo e as garrafadas do
baixo gospel nacional. Nas Escrituras, temos o óleo dos enfermos. Ponto final.
No fim do culto, o “Pastor Marcelo” chama todos à
frente. Cada um dos presentes recebeu uma latinha parecida com aquelas de
pomada Minâncora. O conteúdo foi dado por mirra, óleo ungido e outros
badulaques. Unção especial, panaceia para todo o mal. Obra e arte do nefasto
pastor.
Quando me aproximo do “ungidão”, este na certeza de
que a pregação havia me edificado, entrega-me a lata e dispara: Eu não disse
que te convencia? Por alguns minutos fiquei parado, a espera da saída do maior
número de pessoas das proximidades. Estava decidido a admoestar aquele pastor
de uma forma tão contundente que, ou ele partia para as para as vias de fato,
ou dobrava seus joelhos e lançava a cara no pó.
Abri a lata e disse: Passe esta meleca nos seus
olhos sua anta! Faça já! Pois não é possível que não consigas entender o que
acabaste de ler! Ore para que o Senhor te perdoe por este unguento ridículo e
implore ao Espírito Santo para que este lhe retire as escamas cobrindo olhos!
Estão as Escrituras fechadas ao seu entendimento, ou és mesmo um charlatão?
O homem emudece. O povo observa. Eu tomo o
microfone.
Será que és mesmo um idiota que não conseguiu
entender que esta passagem da cura deste cego de nascença não é a descrição de
mais um milagre, apenas diferenciada por uma pantomina qualquer usando lodo e
um tanque de água?
Meu irmão, você não consegue perceber que está
diante de uma passagem dos Evangelhos que é um dos pilares, da nossa Fé? Um
momento em que o Senhor Jesus se revela de uma forma única: Declara-se não
somente o Messias, mas a própria a segunda pessoa da Trindade? O verbo presente
desde o início?
Para começar era um sábado. E Ele decide fazer a
cura, o que mais tarde suscitaria as críticas dos Fariseus. Contudo, Ele é o
Senhor do sábado. O Messias. E esta foi a sua primeira declaração.
Ao cuspir na terra, diante dos olhos de todos.
Jesus causa estranheza (e futuramente interpretações canhestras como a sua) ao
se utilizar de elementos e rituais para operar um milagre. Na prática, um
milagre prosaico, diante de corpos que foram ressuscitados e curas milagrosas
onde nem mesmo foi necessária a Sua presença física, como no caso da cura do
servo do Centurião.
Por que um Jesus que andava sobre as águas, curava
os que tocavam em sua orla, os ventos e o mar obedeciam, precisaria se valer de
um unguento, de um lodo ou lama de cuspe e terra para curar um cego? Certamente
não era para justificar a idolatria e o paganismo na Igreja do porvir!
Não, meu pobre irmão! Naquele momento, o Senhor
Jesus se volta ao próprio Pai, o criador. Revela-se como Aquele que estava
presente desde a criação e para Quem e por Quem todas as coisas foram feitas.
Jesus inicia seu ato declarando que enquanto
estiver no mundo, Ele é a luz do mundo e, diante dos olhos de quem podia
enxergar, se revela o Senhor da Vida repetindo o gesto primordial da criação do
homem, como visto no Gênesis.
Ao cuspir sobre a terra, lança a água que forma o
barro e junto o sopro da vida saído de Sua boca. E agora, nas mãos do oleiro,
há o barro que é a essência do ser.
Nas mãos do Cristo está a matriz que forma a
suprema criação. Se um cientista moderno visse aquilo, no pouco entendimento
que ao homem ainda é dado ter e saber, imaginaria que estavam ali, algo como
células-tronco, daquelas que colocadas em um local onde havia um tecido rompido,
um órgão danificado, tomam a forma e a função das células locais e destas criam
novo órgão ou tecido.
E eis que assim fez o Senhor, àquele homem que,
como fora dito, tinha os olhos fechados desde o nascimento. Por certo, nem
mesmo olhos ele tinha, mas apenas pálpebras, ou um tecido qualquer a lhe cobrir
as órbitas vazias...
Jesus derramou em suas órbitas a matéria da vida
que repousava em suas mãos, não para sarar um olho doente, mas para criar novos
olhos. E tendo feito nova criação, ordenou que se fizesse aquilo que está dado
a fazer a toda nova criatura nascida em Cristo: Mandou que às aguas descesse os
novos olhos, no tanque de Siloé, que significa o Enviado.

Enxergas agora que nesta sua lata de unguento não
há nada que se relacione a este momento magistral? Enxergas agora o tamanho da
sua estupidez? O que entendeste como um repositório de fé para uma cura
milagrosa, a base para uma doutrina espúria de “pontos de contato da fé” é, na
verdade, grande blasfêmia?
Em cristo somos livres de tudo que nos separa do
Pai. Somos dignos. Qualquer véu, pedaço de pele ou escamas que nos cubram os
olhos, aos nascidos de novo nada representam. Tudo podemos ver em Cristo.
Qualquer idolatria não nos põe em contato com a fé,
mas nos afasta da presença do Senhor.
Logo algumas latas de unguento começaram a cair no
chão de mármore. Depois muitas. Um barulho ensurdecedor Eu acordei com este som
e tive impulso incontrolável de escrever sobre o que vivi em espírito e verdade
Fonte: genizah
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Só fale aquilo que pode edificar tanto a você como aos outros e desfrute das bençãos do Senhor Jesus.